domingo, 8 de junho de 2014

Razões

Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa...

Clarice Lispector - Perdoando Deus - excerto
(In Felicidade Clandestina, pp. 43 e 44)

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Sobre desejos e escolhas

Todos nós reconhecemos o valor e a importância das escolhas. O que esquecemos, em geral, é o fato de que as pequenas escolhas condicionam as grandes. Além disso, a sequência das escolhas determina a direção da vida. Se você deseja ir para o norte, não se chega lá fazendo escolhas na direção do sul, seguindo precisamente para o sentido oposto. (...) O desejo não se realiza independentemente de nossas decisões diárias e da direção adotada. (...) As escolhas, em geral, seguem as mesmas leis da agricultura: (1) colhemos o que plantamos; (2) colhemos num outro tempo; (3) colhemos muito mais do que semeamos.



Amin A. Rodor in Meditação Diária - 2014 - Ed. CPB

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Feridas e curas

Acho que,
assim como a maior parte
das nossas feridas
tem origem em nossos relacionamentos,
o mesmo acontece
com as curas,
e sei que quem olha de fora
não percebe essa bênção.

W.P.Young in "The Shack" - prefácio

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


Sei que posso começar tudo outra vez!
Feliz 2009!
Uma nova chance de enxergar um futuro diferente.
Uma nova chance de fazer as coisas darem certo!
... Porque a vida é um eterno recomeço.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"Acho que os adultos só fingem que sabem tudo!"

domingo, 12 de outubro de 2008

A quem se machuca

"Quando se ama, tanto se teme enfrentar a possibilidade de dar certo, cheia de prisões e tentáculos, como o risco de não dar certo e ficar rompida uma harmonia que poderia ter funcionado.
Ambas as situações convivem em quem ama. Porque 'viver bem' não é dar certo. Dar certo é ser capaz de prosseguir apesar do desacerto: 'Viver mal' não é necessariamente dar errado. Dar errado é não poder prosseguir."


"A quem se machuca" - Artur da Távola in "Mevitevendo - Crônicas"

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Amor de passarinho

Desde que mandei colocar na minha janela uns vasos de gerânio, eles começaram a aparecer. Dependurei ali um bebedouro, desses para beija-flor, mas são de outra espécie os que aparecem todas as manhãs e se fartam de água açucarada, na maior algazarra. Pude observar então que um deles só vem quando os demais já se foram. Vem todas as manhãs. Sei que é ele e não outro por um pormenor que o distingue dos demais: só tem uma perna. Não é todo dia que costuma aparecer mais de um passarinho com uma perna só. (...)

Outro dia o mencionei numa conversa com Otto Lara Resende, pelo telefone, justamente no instante do seu show matinal. Apesar de ter alma de passarinho, o Otto não acreditou em sua existência, preferindo concluir que eu já estivesse bebendo, àquela hora da manhã. (...)

Às vezes tenho a impressão de que tudo que ele faz é para atrair minha atenção e me distrair do trabalho, a dizer que deixe de me afligir com palavras e de me sentir incompleto como se me faltasse uma perna: passe a viver como ele, é tão fácil, basta sacudir as asas e sair voando pela janela...

Fernando Sabino in "A volta por cima"

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O que somos?

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome.
Essa coisa é o que somos."

Saramago in "Ensaio sobre a cegueira"

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Pensamentos que reúnem um tema

Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei

Até que minha vida passe.


Adalgisa Nery in “Mundos Oscilantes – Poesias Completas”

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Poemas aos homens do nosso tempo

Tudo demora. E tudo é véspera e
nostalgia
Desse Agora, quando tu pensas que tudo
se demora.
E por isso, noviça, aos poucos conhecendo
Repouso e brevidade desta vida, do meu
ficar a sós
Pretendo apenas, fruir apesares e partidas

E júbilo também

Porque o instante consente essas
múltiplas medidas.
Noviça da minha hora. Os rios correndo,
o charco

Soterrando minúcias, quem sabe a minha
memória
Conivências, o ouro do meu canto, irmãos
Dionisio e Túlio. Os rios correndo. E todos
os poemas,
Fascinação de amantes e de amigos, os
caminhos de volta
Pretendendo.
Hilda Hilst in Júbilo Memória Noviciado da Paixão

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Direito ao Delírio


Que tal começarmos a exercer o direito de sonhar?
Que tal se delirarmos um pouquinho?

No próximo milênio, o ar estará limpo de todo veneno
O televisor deixará de ser
o membro mais importante da família
As pessoas trabalharão para viver,
em vez de viver para trabalhar.

Os economistas não chamarão
nível de vida o nível de consumo,
nem chamarão qualidade de vida
a quantidade de coisas.

Ninguém será considerado herói
ou tolo só porque faz aquilo que
acredita ser justo, em vez de fazer
aquilo que mais lhe convém.

A comida não será uma mercadoria,
nem a comunicação um
negócio, porque comida e comunicação
são direitos humanos.

A educação não será um privilégio
apenas de quem possa pagá-la.
A polícia não será a maldição daqueles
que não podem comprá-la.

A justiça e a liberdade, irmãs
siamesas condenadas a viverem separadas,
voltarão a juntar-se, bem unidas
ombro com ombro.

E os desertos do mundo e os desertos
da alma serão reflorestados.


EDUARDO GALEANO (tradução livre de Rodrigo Espinosa Cabral)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Onde?


Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?

Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?

Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?

Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?



Zila Mamede in Corpo a Corpo

domingo, 29 de junho de 2008

Eu escrevo porque...

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."



Texto extraído do programa "ÍNDICE CULTURA - Editoria Especial"
Produzido pela CULTURA FM

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cuidado...



"Tenha cuidado com uma coisa:
quando lamentar-se
começa a ser um consolo,
é tempo de prestar atenção."




Clarice Lispector in Correio Feminino

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Palavras cruéis?

"Ninguém jamais teve dor de estômago
por engolir palavras cruéis que deixou de dizer."

Autoria atribuída a Winston Churchill

 
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